sábado, 11 de janeiro de 2014

94ª assembleia da Convenção Batista Brasileira: porta aberta às pastoras?



Se me dissessem há 15 anos que a porta para a filiação irrestrita de pastoras à OPBB estaria quase completamente aberta na 94ª assembleia da Convenção Batista Brasileira, eu não demonstraria surpresa. Foi uma longa caminhada nestes 15 e muito mais longa para trás, considerando muitas outras ordenações com finais infelizes, interditadas por violentos "piedosos" ou abortadas ainda quando eram gestadas por vocacionadas em formação teológica ou missionárias com vocação pastoral nos campos. Há muito tempo nós batemos, como viúvas insistentes e impertinentes.
Não acredito que todas as lideranças femininas tenham vocação pastoral, que fique claro! Nem acredito que esposas de pastores tenham necessariamente vocação pastoral ou devam ser chamadas de pastoras por suas congregações. Não mesmo!
Acredito que Deus, através do Espírito Santo, deu dons aos homens e mulheres que constroem a Sua igreja. Dons para servir e, entre eles, o pastoral. Porque recebi este e não aquele não é uma discussão coerente, nem cabe no Mistério. O que olhando para trás percebo é que Deus conhecendo minha personalidade e, tecendo o tempo de outras pessoas e igreja, produziu um Kairós inegável, arrastando com seu vento tudo e todos que estavam no caminho. Foi irresistível para mim e para os que estavam em São Paulo em 1999.
Agora, não é tranquilo ser mulher em nossa sociedade sexista, nem pastora em uma denominação com duplo discurso sobre nosso valor e o que podemos ou não. Daí que algumas escolheram um caminho mais combativo. Nessa visada do passado, acho, inclusive, que as "armas" na minha mão não receberam a desaprovação divina; talvez, nem mesmo o silêncio de outras companheiras. Por isso, cada avanço é importante. Cada "desarmamento" do espírito deve ser celebrado. Cada porta aberta, um grito de alegria.
Que os presentes na assembleia deste ano da Graça do Senhor sejam testemunhas do fim de mais esta barreira humana para o exercício pleno da vocação pastoral das mulheres batistas do Brasil.

Pra. Silvia Nogueira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

em defesa do sabático

O tempo cronológico não tem nenhum poder sobre o que vai dentro da gente. As nossas "questões" são tecidas em outros ritmos; outras psicologias. Logo, estipular um tempo para o descanso é uma formalidade de calendário e uma disciplina autoimposta sobre as tão preciosas agendas de nossas vidas. Tem a sua utilidade, mas não define o resultado.
O timing do meu "ano sabático" terminou no dia 31 de dezembro de 2013, mas não as ruminações que me levaram até ele. Como foi importante ter desfrutado desse tempo sozinha, sem as múltiplas solicitações da vivência pastoral e religiosa. É uma sandice que recomendo para todos nós que lutamos pelas causas da justiça e da liberdade, mas principalmente para os que servem aos outros como líderes.
Creio que foi a maturidade que me fez perceber objetivamente como é fácil se perder do caminho que trilhamos e de como é fácil mascarar a perda de nossa potência de misericórdia e serviço aos outros com a dissimulação do nosso discurso.
Sim, é muito fácil nos perdermos de nós mesmos e produzir desculpas por ignorar aquilo que realmente é importante!
Essa obviedade promoveu o meu desejo para o sabático. Outras questões, menos óbvias, foram se delineando sobre a terra como tesouros arqueológicos. Camadas de tempo e esquecimento sobre eles :
1. quem luta, cansa. pergunta-se em algum momento pelo sentido da luta, deseja reconhecimento e avanço.
2. sucesso e fracasso são duas dimensões relativíssimas e subjetivas de um ser humano consciente.
3. é preciso perseguir o que nos inquieta, mesmo com medo.
4. nenhuma resposta será percebida com clareza se não soubermos o que perguntar.
5. fazer as pazes com o passado é um imperativo! sem isso, o presente é um fardo.
Os rumos deste novo ano estão rascunhados. Resolvi viver à lápis!

Um bom e bento 2014!
Pra. Silvia Nogueira
 

diálogo no museu da justiça